Prisioneiro do Passado

Facção Central

Compositor: Eduardo

Clareou meu alvará de soltura
Não vou sair num caixão de lata ou de fuga
Não precisei esfaquear o estuprador
E nem matar o maldito diretor
Não fiz refém, a liberdade chegou
Ei carcereiro, abre as grades, faz favor
Não quero mais jumbo, conseguir a transferência
Sem triagem, sem audiência
1-5-7, flagrante inafiançável
Revólver, dólar, carro na bunda do advogado
Mas tá limpo, hoje é festa de um homem só
Que entrou ser humano, saiu monstro sem dó
O sistema carcerário é fracassado e incompetente
Transforma o réu primário em reincidente
Só que comigo não! Vou ser diferente
Foda-se seu banco, gerente
Agora eu to livre, que Deus me livre do preconceito
Sei o preço do erro e o tratamento pra ex-detento
No Brasil, uma vez no sistema carcerário
Pra sempre presidiário

Sou prisioneiro do passado
Eu tenho um rótulo na testa: Presidiário

Acordei era tipo quatro e meia da madrugada
Comprei jornal, preenchi ficha e nada
Faxineiro, ajudante geral, o que vier
Por um salário por mês, tô rezando com fé
Sou ex-detento, é, cumpri pena
O boy não deixa nem limpar o chão da empresa
Talvez não saiba esfregar uma privada direito
Saí da cela, mas não fujo do preconceito
E que se foda se meu filho tá com fome
A vaga foi preenchida, mas deixa aí seu telefone
Sou ser humano também, só que reduzido
A número pro Estado, a resto no lixo
Candidato a mendigo do viaduto
Bêbado jogado num bar, doente e sujo
Depois a madame chora com a faca no pescoço
É, e não quer o filho morto
Emprego, confiança, ninguém dá pra você
Depois é "por favor, não quero morrer"
No Brasil, uma vez no sistema carcerário
Pra sempre presidiário

Sou prisioneiro do passado
Eu tenho um rótulo na testa: Presidiário

Vou fazer o que o sistema quer
Roubar um carro importado, a bolsa de uma mulher
Ser outro preso com a camisa na cabeça
Enfiando um estilete no refém, sem pena
Invadindo a mansão, dando soco na vadia
Cadê o cofre? 1, 2, 3! É corpo na piscina
Ninguém vê quando a luz de Deus brilha no processo
Sem estudo, profissão, é sem sucesso
Queria um trampo, recuperar o tempo perdido
Mas esfregaram na minha cara meu artigo
Deram motivo pra eu ficar pior
Pra meter BO, descarregar sem dó
Madame quando eu estiver matando o seu parente
Por uma merda de relógio, se lembre
Que aqui se cumpre penas em distritos
Que em cela de 10, vivem 40 indivíduos
Não tem cursos que nos reintegrem à sociedade
Só triplicamos maldade atrás das grades
Madame ajoelha, reze é adeus
Cadeia não regenera e o problema é seu!

Sou prisioneiro do passado
Eu tenho um rótulo na testa: Presidiário

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