Observando o Rio de Sangue

Facção Central

Compositor: DumDum / Eduardo

Já faço parte do cenário trágico
Cadeira cativa no balcão lugar reservado
Fiz mestrado em morticínio, em cotidiano
Em malandragem, ignorância, o pior do ser humano
Diretor na escola da vida na sarjeta
Emoção pra acabar de calmante tarja preta
O comentarista que não precisa de tira-teima
Pra lance irregular do sistema sem
Surpresa com sátira, festa sádica
De quem reduziu a cinzas o dono da fábrica
Enquanto eu viro o copo, o traficante lustra a Uzi
Do lado do pivete jogando bolinha de gude
O jornal cobrindo o enforcado com cinto
De tão normal não causa dó, vejo uma pá de bico rindo
Chorei por dentro com a menina pouco maior que minha filha
Por 5 reais fazia chupeta, dava a vagina
O pai ficou 10 anos preso, sonhando com o alvará que só veio pra alma, a carne apodreceu lá
De longe identifico a maquete falsa de bandido
Enche o cu de crack e invade a goma do vizinho
Sequestra faxineiro, rouba perueiro
De varal em varal com rombo no peito
Faz uma cara que os maluco encapuzado de Opala
Passaram a 5 por hora com as M10 cuspindo bala
Fizeram um mar de sangue que boiava 8 corpo
Fiquei no meio dos cacos, me fingindo de morto
O ladrão faz o papel do Estado no bairro
Comida, proteção, por isso a festa quando é resgatado
Aqui a justiça funciona, o júri é implacável
Que o diga o estuprador que no meio do mato virou churrasco
Relatando a mortalidade maior que de pais em guerra
Outro indigente sem emprego no bar da favela

Sou telespectador do filme de terror outro indigente no mar de sangue na guerrilha
Sou telespectador do filme de terror de camarote vip onde a sirene faz a trilha
Sou telespectador do filme de terror outro indigente no mar de sangue na guerrilha
Sou telespectador do filme de terror de camarote vip onde a sirene faz a trilha

Indo pra aula, a molecada uniformizada
Achando cápsula de 45 deflagrada
Um já fuma cigarro, perderam a inocência
Só vão pra escola porque tem merenda
O professor não tem salário nem estímulo
Carteira quebrada, falta de giz, livro completam o ciclo
Na porta, o traficante alicia o menor
Pra depois esquartejar se não pagar o pó
Na creche, as crianças com piolho, lêndea
Funcionário despreparado e um mês acampando pra pegar senha
A expressão é de cansaço no rosto enrugado
Que põe flanela o dia inteiro em retrovisor de carro
Socorro! Socorro! Meu pai tá quase morto!
Esperou a ambulância 2 dias fazer o socorro
Enquanto você sonha com cruzeiro marítimo
A mulher sonha aqui com a provisória do marido
O único órgão do Estado presente no bairro
É o PM sem mandado, invadindo seu barraco
Dando soco na sua mãe, mandando calar a boca
Vai puta, quero o revólver, agiliza porra!
É só ver o Águia Dourada que o gambé se empolga
Faz diligência pra escrever com bala em volta da droga
Sem TV, vem vender arma, cobrar pedágio
Ter participação no lucro do tráfico
380, escopeta, replay de cena
Mais lobo mau indo atrás de porquinho em Moema
Outro plano infalível de perícia minuciosa
Do tipo que vem joia até com vigia na porta
À noite os comentários: Um de moto fugiu
3 já era e um tá coordenando o helicóptero da Civil
A sirene do carro funerário faz a trilha
Eu com meu copo de pinga observo a guerrilha

Sou telespectador do filme de terror outro indigente no mar de sangue na guerrilha
Sou telespectador do filme de terror de camarote vip onde a sirene faz a trilha
Sou telespectador do filme de terror outro indigente no mar de sangue na guerrilha
Sou telespectador do filme de terror de camarote vip onde a sirene faz a trilha

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